(Ricardo A. Guerra da Silva, titular da Cadeira nº 2)
Descobri que poucos
anos ainda me restam, muitos já os vivi, foi um longo e bom passado. Os poucos
anos que ainda me aguardam, espero que sejam tão bons quanto os foram seus
irmãos. Agora a ficha caiu: entendo que quase tudo o que por mim passou
despercebido, eu os perdi. Não voltam mais.
Não careço mais de
enfrentar as pequenezes e os opróbrios da vida. Não tenho mais tempo de esperar
a chuva passar, vou aproveitar para molhar-me e bebê-la. Não careço mais de ter
vergonha em ser honesto e honrado. Meu parco tempo que me sobra desfrutarei com
pessoas de alma límpida, que não cobiçam nada, senão buscarem-se a si mesmas.
Não tenho mais tempo
para discutir o sexo dos anjos e nem os gozos dos dogmas sem sexo, nem a alma
das plantas e dos animais irracionais, ou não.
Muito menos de pensar
em ti. Meu tempo estar-se expirando, as decepções, depressões e ascensões não
têm mais nenhum valor.
Cansei de procurar a
fome dos desamparados para matá-la. Já não exijo mais nada de mim,
contento-me com a experiência e a filosofia.
Não tenho mais tempo
para ouvir lamentos e explicar conceitos inconcebíveis. Terminando-me está
quase o show.
Os últimos
relampagueamentos dos meus neurônios tornam-me transparentemente
cristalizantes. Vivi como quis viver.
- Quantos anos tenho?
- Não os tenho mais,
passaram!
- Mas, gostaria de
regressar ao útero materno, e iniciar-me novamente num orgasmo cósmico.
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