domingo, 13 de junho de 2021

QUANTOS ANOS TENHO?

(Ricardo A. Guerra da Silva, titular da Cadeira nº 2)

Descobri que poucos anos ainda me restam, muitos já os vivi, foi um longo e bom passado. Os poucos anos que ainda me aguardam, espero que sejam tão bons quanto os foram seus irmãos. Agora a ficha caiu: entendo que quase tudo o que por mim passou despercebido, eu os perdi. Não voltam mais.

Não careço mais de enfrentar as pequenezes e os opróbrios da vida. Não tenho mais tempo de esperar a chuva passar, vou aproveitar para molhar-me e bebê-la. Não careço mais de ter vergonha em ser honesto e honrado. Meu parco tempo que me sobra desfrutarei com pessoas de alma límpida, que não cobiçam nada, senão buscarem-se a si mesmas.

Não tenho mais tempo para discutir o sexo dos anjos e nem os gozos dos dogmas sem sexo, nem a alma das plantas e dos animais irracionais, ou não.

Muito menos de pensar em ti. Meu tempo estar-se expirando, as decepções, depressões e ascensões não têm mais nenhum valor.

Cansei de procurar a fome dos desamparados para matá-la. Já não exijo mais nada de mim, contento-me com a experiência e a filosofia.

Não tenho mais tempo para ouvir lamentos e explicar conceitos inconcebíveis. Terminando-me está quase o show.

Os últimos relampagueamentos dos meus neurônios tornam-me transparentemente cristalizantes. Vivi como quis viver.

- Quantos anos tenho?

- Não os tenho mais, passaram!

- Mas, gostaria de regressar ao útero materno, e iniciar-me novamente num orgasmo cósmico.

 

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