Por Vilmar Carvalho –
Acadêmico da APLE / Cadeira
18.
Ele prospecta fontes veiculadas à presença dos
trens. Máquinas que abriram caminho e moldaram cidades, principalmente, ao
modificar a paisagem sentimental dos homens e mulheres, seus pioneiros de
janela veloz, assistindo, dela, a Mata Sul pernambucana desenhar-se canavial,
engenhos, usinas, vilas e cidades nascidas depois da chegada da ferrovia.
1.
As
estações da saudade chegaram. Encontrei o novo livro da professora Socorro
Durán sobre a mesa da casa paterna. Uma casa de saudades postas pelas memórias
de meu velho pai. Uma atmosfera que fez o livro de Água Preta à Água Branca
(Editora Inovação, 2019) descortinar trilhos, dormentes, estações e o trem, ali
nos meus olhos, o trem. A máquina a vapor que sempre nos avisa do passado
(apita!) à curva próxima, nostálgica, propriamente esquecida, caso não se faça
menção ao registro literário e histórico. O livro de Socorro é uma compilação
de fontes jornalísticas, mas não somente. Ele prospecta fontes veiculadas à
presença dos trens. Máquinas que abriram caminho e moldaram cidades,
principalmente, ao modificar a paisagem sentimental dos homens e mulheres, seus
pioneiros de janela veloz, assistindo, dela, a Mata Sul pernambucana
desenhar-se canavial, engenhos, usinas, vilas e cidades nascidas depois da
chegada da ferrovia.
2.
O historiador Durval Muniz, no consagrado “A
Invenção do Nordeste”, o denomina um espaço de saudade. Um sempre recuo ao chão
dos primeiros tempos. Espaços, lugares e sociabilidades que fazem daqui um
território poético, um sentimento que se constrói considerando o que se perdeu,
próspero ou decadente. O livro de Socorro Durán é, por isso, também uma viagem
poética. Um roteiro entre as estações da nostalgia, que notícias de época
enriquecem, saídas do mundo digitalizado de hoje, quando a pesquisadora pôde
acessar de casa, no computador, a libertar mais ainda a mente e o coração para
viajarem um percurso de entusiasmo, recuperando a si, de criança, menina-moça,
mulher daqui, Igarapeba, Palmares, parte do mundo cortado de trilhos e trens.
3.
As estações das saudades de Socorro chegaram. Elas
chegam nesse encalço poético. Elas preenchem a memória de muitas gerações, e
possibilitam que jovens de agora e do futuro conheçam o impacto que foi a
presença do trem. Uma estação que não é mais de passageiros e cargas. Outras
coisas se fez delas no presente. Outras em ruína. Outras até desaparecidas e
somente fixadas na memória do povo. Por isso, Socorro Durán terá sempre olhos
de curiosidade abastecidos nas páginas desse livro. Lugar de registro e
compilação de fontes de consulta, mapa sentimental, poética telúrica, nostalgia
da memória dos jornais, pinceladas biográficas e topônimos. Um trem com muitos
vagões, como tem que ser o trem. Algo que dilui o peso dos ferros, entre a
velocidade do tempo e a fumaça que se desmancha em saudade, do sempre de Água
Preta à estação Água Branca. Ou vice-versa.
TRINCA! Nº 71
Palmares,
21 de maio de 2019