sábado, 19 de junho de 2021

Bloco Jaqueirense (fotografia de João Bosco)

 

                                 BLOCO "O BOI DE BIÉ

    (Ricardo A. Guerra da Silva, titular da Cadeira nº 2)

 

O jaqueirense Bié era uma pessoa muito animada. Quando chegava à época do carnaval, tocava, ou pelo menos tentava tocar, uma sanfona velha e desafinada já bastante desgastada e com o fole furado. Mesmo assim, era um grande folião e entusiasta do reinado de Momo.

Era um homem simples, pobre e humilde que ganhava a vida como agricultor e trabalhador no corte da cana de açúcar nas safras sazonais, na região de miséria do Ópio de Pernambuco, na Mata Sul Pernambucana. Morava na antiga Rua do Cemitério e nas sextas-feiras sempre fazia à noite, em sua casa, uma dança, para tomar umas e outras talagadas da branquinha destilada da Saccharumofficinarum (pinga) e alegrar a vizinhança.

O que ele mais gostava mesmo, era quando chegava fevereiro e com ele o Carnaval. Então era a época de desfilar com os seus blocos: A Ema de Bié, O Boi de Bié e A Laussa de Bié, ou La Ursa (personagem popular do nosso carnaval de rua que assusta às crianças e pede dinheiro; teve origem na expressão la ursa, animal que um domador italiano levava pela corrente às ruas a pedir dinheiro). Assim, nasceu o refrão “A Laussa quer dinheiro quem não der é pirangueiro”, caindo o “R” de "Ursa" na linguagem popular, como costuma acontecer.

Cada dia de Carnaval Bié saía com um bloco diferente animando e fazendo o seu folguedo. Comandava a “orquestra” com a sua sanfona furada, acompanhado de um melê (espécie de surdo, feito num toco de árvore usando uma borracha de câmara de ar de caminhão como pele), um triângulo, um reco-reco e um violão.

Num desses longínquos Carnavais do passado, Bié, junto com o seu bloco “O Boi de Bié”, tomou o trem de passageiros e foi até a cidade de Marayal, desfilar e cantar pelas ruas de lá. As pessoas gostavam de ver e sempre lhes davam bebidas e algum dinheirinho. A festa corria solta e animada, e tome bebida, cerveja, cachaça Rainha Pernambucana, bate-bate de maracujá etc.

Quando O Bloco entrava em algum estabelecimento comercial, pedindo bebida e lhe serviam cachaça ou bate-bate, Bié sempre dava para o Boi beber, ou melhor, a pessoa que estava carregando a fantasia do boi. Quando, porém, lhes ofereciam cerveja gelada, ele a bebia.

Meio-dia, sol quente, calor de rachar tamanco de madeira, então o Boi foi se embriagando e quando o bloco estava bem no meio da rua principal da cidade, apertou uma diarreia e deu vontade do Boi defecar.

E aí, o que fazer?

O Boi não teve dúvidas, se acocorou no meio da rua e, lá se esvaziou; só que um policial que estava observando a festança viu tudo.

Quando todos já saíam de fininho, a “autoridade” disse:

- Alto lá, estão todos presos! Eu vi o que o Boi fez e isto não está correto, Já pra cadeia todos vocês!

Prenderam todos do bloco, músicos, passistas e o Boi; somente depois, com a intervenção de um político local, soltaram-se e voltaram para Jaqueira.

Pensam que Bié ligou pra isso?

De jeito nenhum.

No outro dia, ele já estava desfilando garbosamente com outro dos seus blocos, dessa feita, com A Ema de Bié.

 

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