quinta-feira, 8 de setembro de 2016

Profundamente triste!

Tentei escrever algo ontem, mas fracassei. As lágrimas foram mais fortes que eu. Perdi meu grande

amigo, o nobre Elias Sabino, meu querido "menino travesso de 96 anos", como eu carinhosamente o chamava.
Seu Elias era o confrade mais idoso da Academia Palmarense de Letras. Eu o admirava. E como admirava! Aos 96 anos, ele conseguia ser pontual em seus compromissos na APLE. Morava em Recife, alugava táxi, enfrentava uma cansativa viagem, mas sempre se fazia presente. Era dono de uma sabedoria encantadora. Tinha uma alma jovem, um senso de humor invejável, repreendia com doçura e dizia: "Eu posso ser teimoso, tenho 96 anos!". Eu achava isso o máximo, dava o maior ponto! Sabino tinha toda a razão em dizer isso porque até a sua teimosia era sábia. Conheceu a vida como poucos conheceram, alcançou uma idade que muitos não alcançarão e estava ali para nos ensinar. A mim ele ensinou bastante. A perda é irreparável, como bem disse Admmauro Gommes. Sua admirável lucidez permitia que ele escrevesse os mais perfeitos discursos. Eu sempre pensava ao ouvi-lo: "Um dia eu chego lá!".
Eu ficava cheia de vida quando chegava à APLE e o encontrava, sempre sentado à Mesa Diretora. Fazia questão de cheirar esses cabelos brancos e manter meu "ritual": Falava ao ouvido dele:
-Sou sua fã!
-Heeeein??? (Sua audição era fraquinha, rsrs).
-Sou sua fã! - quase gritando.
-Vá para o outo ouvido, sou surdo desse! (E ria!).
-Sou sua fã!!!!!!!!!
Ele achava aquilo incrível, descobri isso em seu último discurso, quando ele disse ao microfone "Sylvia Beltrão me encantou com a sua poesia de vida. Me tornei refém de seus versos. Ela sempre me diz que é minha fã, então, aos 96 anos com uma fã bonita dessa, posso dizer que eu estou com tudo!". Com essa revelação ele arrancou gargalhadas de todos e fez de mim uma criatura mais fã ainda desse menino travesso.
Tiramos essa foto minutos depois do seu último discurso. Colocou a mão no bolso, tirou uma quantia e pediu que eu "revelasse" essa foto para ele, pois queria guardar esse registro. Pedi que guardasse o dinheiro, pois não seria necessário, eu iria imprimir essa foto e entregá-lo em nosso próximo encontro, na APLE. Ele pressionou:
-Prometa!
-Prometo!
-Se você não cumprir sua promessa, será para mim uma mulher sem palavra.
-Minha palavra vale mais que a minha assinatura.
Infelizmente a morte com a sua indesejável intromissão, me impossibilitou de cumprir minha promessa e hoje me sinto uma mulher das letras, mas sem palavra. Não tive a oportunidade de honrar meu papel.
Estou triste, vai ser difícil demais chegar à Academia e não poder mais exercer o meu "ritual", nem rever meu menino travesso de 96 anos.
Pedi a Deus em oração que Ele coloque o grande Elias Sabino num lugar bem especial, pois ele é merecedor.
Luto!

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