POEMAS DO CONFRADE
PICA-PAU
O CORDEL
O que seria do mundo
Sem a terra, mar e céu?
O que seria do escritor
Sem a caneta e papel?
O que seria da cultura
Se não tivesse o cordel?
Pois o cordel representa
A nossa literatura
Com sua simplicidade
Mostra pudor e bravura
Viva o dia do cordel
Cordel é cultura pura
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TERRA DOS POETA
Uma terra de abundância
Com suas águas e fontes
O Una na correnteza
Por entre pedras e Pontes
Se forma e se amplia
O que foi chamado um dia
De povoado dos montes
Foi se desenvolvendo
A cria de água preta
E têve quem a olhasse
Com o olhar de luneta
Por um motivo esquecente
A curiosidade da gente
Lhe batizou de trombeta
Uma localidade rica
De força intelécto e gana
Mostrando o potencial
Na cultura soberana
Foi ovacionada
E passou a ser chamada
Atenas Pernambucana
O povoado do Una
Hoje respira outros ares
Capital da mata sul
Com todos os esmiuçares
hoje temos na região
De coração pra coração
A cidade de palmares
A cultura e a grandeza
Está na vêia entranhada
No seu povo sua gente
A arte está encravada
Em ruas avenidas e lares
E por amor a palmares
Parabéns terra adorada
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POESIA PURA
Sou cria da rima viva
Sou filho da literatura
Sou quarteto sou sexteto
Eu sou neto da cultura
Sou o verso e a leitura
Sou decassílabo entoado
Sou martelo agalopado
Eu sou poesia pura
Sou repente sou embolada
Lírica e absoluta
Abstrata e inspiração
Da poesia matuta
Quando a áurea se mistura
Um fenômeno acontece
Inspiração aparece
Sou a poesia pura
Sou o forró e xaxado
Maracatu e baião
O xote do rei Gonzaga
Nas noites de são João
Sou foguetão nas alturas
Sou barro de Vitalino
Sou um luar nordestino
Eu sou poesia pura
Sou o eco numa gruta
Sou o sonoro da mata
Sinfonia de pardais
Sou barulho da cascata
Sou vento em embocadura
Sou crepúsculo vespertino
Sou oxente nordestino
Eu sou poesia pura
Sou vento rodopiando
Folhas secas pelo ar
Sou céu estrela e lua
Sou a terra sou o mar
Com fortaleza e candura
Sou um casal se amando
E o cupido fechando
Eu sou poesia pura
Não sei quem sou
Só sei que sou
E se não fosse não era
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POEMAS DO CONFRADE
JANILSON SALES
MOTE 01 (decassílabo)
Na sagrada leitura diz que somos
Todos filhos herdeiros de um pai
Em batalha sangrenta não se cai
Como algo normal, isto supomos
Todavia nos bens se sobrepomos
E na força das armas dá-se enredo
A infame da guerra faz degredo
E irmão ter irmão por desigual
Não existe justiça social
Onde impera racismo, fome e medo
Mote: Henrique Brandão
Glosa: Janilson Sales
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MOTE 02 (decassílabo)
A fazenda por tempo faltar leite
A budega sem carne, pão nem sal
O ribeiro sem água é normal
Passarada sem cântico deleite
Arvoredo com galho de enfeite
A pastagem cinzenta sem verdor
Que permite sonhar agricultor
Nada muda, perfil nem euforia...
No sertão quando falta cantoria
O sol nasce escondido e sem calor
Mote: João do Serrote Preto)
Glosa: Janilson Sales
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MOTE 03 (decassílabo)
Quando peito encena com saudade
A conversa transpira de emoção
Cada um que defenda tal razão
Entre ter e não ter prioridade
Vem o peito, falar sua verdade
Que prefere vivência recente
Que moveu suas fibras fortemente...
Vem saudade falando compassado:
Você diz que sou parte do passado
Mas deseja me ver no seu presente
Mote: Ramon Medeiros
Glosa: Janilson Sales
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MOTE 04 (decassílabo)
Com certeza não é a tradição
Nem poder de um clã familiar
Muito menos o jeito de falar
Eloquente que para multidão
Ou por ter altas grifes no roupão
Ou rodar num carrão atapetando
Aos milhões seguidores engajando
Nem luxar em Paris, a predileta
Se conhece o tamanho de um poeta
Pelos rastros que os versos vão deixando
Mote:Simplício Lira-Pio)
Glosa: Janilson Sales
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POEMAS DA CONFREIRA
RUTE COSTA
O
AMOR QUE TRANSFORMA
Em versos velados
O amor é perfeito
Lindo e nivelado
Como um sujeito.
Em cartas de namorado
O amor é juramentado
No casamento é sagrado
No cotidiano é banalizado.
É tanto “eu te amo’ entre aspas,
É tanto amor condicionado
Fica muito difícil desvendar
O amor de fato do que é falado.
É de notório saber que o amor
Transforma prisão em liberdade
Vida escassa em prosperidade
Ele está no campo e na cidade.
Quando o amor de verdade chega
Ele começa a agir de dentro para fora
Primeiro se ama, para depois amar
Como uma flor que desabrocha.
Aquele sentimento tão profundo
Resulta numa transformação interna
Não se define o amor em palavras
Mas se percebe em ações e postura
Tenta se descrever em canção
Até que se torna envolvente
Como os passos de uma dança
Ritmados pelas batidas do coração.
Mas, são tentativas
Porque o amor é fonte inesgotável
De sentimentos humanizados
Que enobrece o nosso ser
Quando o amor está dentro do coração
Não há espaço para traição.
Respeita a si e ao outro não é condição
É uma troca mútua de respeito e admiração.
O amor não tem preconceito
Nem classe social rico ou não
Passa a viver livre de verdade
Desse sentimento a maturidade.
Mas esse amor não é mágica
Ele se constrói na dinâmica da vida
Ela que no pulsar de uma metamorfose
Percebe que amor está na sutileza
[transformação.
Palmares, 13 de junho de 2025.
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PALMARES
Na palma da mão do artista plástico, és aquarela
Na ponta do lápis do poeta, és a poesia
Na memória do historiador, és a vida em prosa
No timbre da voz do cantor, és a melodia.
Nas mãos do agricultor és terra fértil
Nas mãos do professor és tema de redação
No teu seio és a margem do Una
Rio grande e formoso que margeia o coração.
Em teus ares o clima é úmido
Em tua paisagem o verde predomina
No coração do cordelista és verso
És estrofe de decassílabo cristalina.
No coração do teu povo orgulhoso
És Palmares, és símbolo de fortaleza
Rota de Zumbi e teu destino é progresso
Terra dos Poetas, Cultura e grandeza.
Palmares, 15 de maio de 2025
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POEMAS DO CONFRADE
VILMAR CARVALHO
MIRANTE GIRASSOL
Desejo que o tempo venha e a vida resolva
desejo o futuro e que o corpo não adoeça
recolho-me na poesia sem fustiga apelos
venha tempestade, fúria ou cataclisma.
Desejo a vastidão sem encontro
sem estrela, sem rastro
observa o começo e o fim do calendário.
Tenho a mesma imobilidade
a mesma doce tortura
que não manobra o horizonte
e jamais escapa da chuva
bramante, delirante, ofegante.
Ah! Perversa poesia!
a mesma doce captura desse olhar.
Ah! enorme noite vazia!
a mesma partitura que não uso decifrar.
(In Cartas ao Girassol, 1998)
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A FENDA DOS OLHOS DO GIRASSOL
Não desejo nos colocar acima
de tudo e todos
cabeça acima do mundo
cabeça plenamente erguida
como se a pequena burguesia
governasse tudo.
Não desejo nos colocar na lama
cabeça abaixo da terra
cabeça nauseante enfiada
como se a derrota
governasse as coisas.
Não!
Eu preciso andar objetivo!
Onde há a sensação de escassez
Erga-se eu e você
no trépido desejo de vitória.
(In Cartas ao Girassol, 1998)
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A ÚLTIMA FOTO DE MARX
Olho a foto onde você não é
aquela imagem conhecida e agradável
ou medonha e desconhecida para alguns.
A fotografia sua. A última.
Penso na força das décadas
e na inconclusão de todos nós.
Penso que você já desconfiava da morte.
Penso no desarme do sorriso pequeno
e naquilo que seria sua máscara:
porque o disfarce de sua morte
nunca morre e sempre estará aqui
impregnado de todos nós.
Talvez o ícone de alguns dogmas.
Talvez a lápide que palavra falta
para rabiscar em pedra fria
o pensamento nu e nervoso
murmurado de outros homens mortos
esquecidos por todos nós.
Quem poderia pensar em estátuas?
Em enormes painéis de propaganda?
Nas pompas militares e arrogantes?
Muito menos você assim em 1882…
Dono de outra face, outro gesto
refazendo o balanço de tudo
que se desmancha em todos nós?
(In Cartas ao Girassol, 1998)
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POEMAS DO CONFRADE
MARCOS CARNEIRO XEPA
LUA, VERSOS E POESIA
Na Aurora o bloco dos poetas está
Com suas poesias prontas pra sair
Cada um com seus versos a desfilar
Abraçados à lua que não quer se despedir
Oh! Linda lua
Que tanto inspira o amor
Com versos pelas ruas
Com poemas de quem nos inspirou
Lindas canções em outros saudosos carnavais
Com aquelas poéticas dos Irmãos Moraes.
Mesmo se o sol chegar
E amanhecer o dia
Deixa o poeta rimar
Brincar com a sua poesia
Colocar a lua no coração
E fazer do nosso bloco
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HÁ UMA ESTRELA NOS ESPERANDO
Não esqueça de voltar para os meus sonhos,
Onde envelhecemos olhando para aquela estrela,
Que na adolescência juramos que seria nossa bússola
Para toda uma vida.
Já cruzei oceanos de paixões,
Viajei pela a adultez dos sentimentos,
Algumas vezes aprisionado em gaiolas vazias de amor...
Mas, bastava olhar para o céu e encontrar a nossa estrela,
Que a vida passava a ter sentido,
Que o pássaro do meu eu-lírico
Voava abraçado à liberdade ao teu encontro, Amada, minha!
Onde, está você agora?
Acredito, que estejas como eu - limpando as vidraças das janelas;
E escolhendo a melhor rota que te levará ao ponto de onde partimos um dia, sem jamais abandonarmos o nosso amor.
Não esqueça de voltar para os meus sonhos!
Há uma estrela nos esperando.
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BAJADO NO TREM DAS ALAGOAS
Em Maraial embarcou
foi danado pra Catende
onde seus primeiros dotes artísticos bajou.
Viu morenas dos cabelos cacheados e caiporas-ascensianas
quando na Terra dos Poetas(Palmares) passou.
Ao passar por Ribeirão
Seguia em sua viagem
com seus sonhos, vagando em cada vagão
indo além dos plantios de canas, três-xis e roxinha
lá se vai bageando o artista calmo e brincalhão.
Na terra de Cícero Dias, que grandes obras pintou
aquele trem com destino
que carregava um desconhecido letreirista, parou
e abasteceu os sonhos
daquele futuro artista sonhador.
Chegando em Pontezinha o Trem de Alagoas, três vezes apitou
E seguiu viagem
Bajeando, Prazeres, Afogados, manguezais, palafitas; e o mar, que tanto Bajado amou.
O trem assim continuou:
Vim danado de Catende! Vim danado de Catende! Vim danado de Catende!
Deu mais três apitos: Bajado, Chegou! Bajado, Chegou! Bajado, Chegou!
Ao descer na Estação Central
viu o farol de Olinda
Indicando sua segunda cidade natal
onde o artista vai virar
celebridade mundial.
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Poemas do confrade Célio Queiroz
PEQUENA OBSERVAÇÃO
Olhando aquela figura
Vi, revi de todas as maneiras
Como a vida é passageira
As vezes, cruel e dura…
Há mudança na postura
Transforma e até modifica
Ninguém sabe como fica
Na etapa derradeira
Qual carro que sai da pista
Tombando na ribanceira!
O tempo passa e consome
As forças, as energias
Mudando as fisionomias
Destrói, consome a beleza
Faz tudo que a natureza
Preservou por alguns dias
Depois, são só avarias
Na carcaça carcomida
Vai chegando o fim da vida
Sem sonhos, sem fantasias!
Quem pensa que nada muda
Esquece que o tempo passa
O tempo destrói as massas
Transforma tudo em lembranças
No entanto, essas mudanças,
Que promovem a transformação
Quando se dá conta já estão:
De corpos modificados
Quer contestar resultados
Mas é somente ilusão!
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POESIA ALEATÓRIA
Hoje acordei me lembrando,
Dos tempos de Anacreonte,
Quis beber água na fonte
Do reino da poesia
Deu-me uma paralisia
Que fiquei desgovernado
Não encontrei resultado
Onde pensei que existia!
Me lembrei daqueles dias
Que namorava Enedina
A cangaceira menina
Que lutava todo dia
As ordens ela recebia
No cano da carabina
Uma mensagem que ensina
Se manter com valentia!
Procurei ter alegrias
Em meio às dificuldades
Caminhei pelas cidades
Me perdi na boemia
Comecei fazer poesia
No meio das tempestades
Construí as amizades
Que não pensei que fazia!
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ADMIRAÇÃO
Admiro a natureza
Num jardim todo florido
Passarinho colorido
Alimentando o filhinho,
Chega na beira do ninho
Preparado e decidido
Corajoso e destemido,
Defendendo a sua cria
Ofício de todo dia
Num mundo desiludido!
Eu admiro o Cancão
Piando no pé da serra
Um cabrito quando berra
Escaramuçando no chão
Perneira, chapéu, gibão
Pega de boi na chapada
Um trotear de boiada
Na campina descoberta
Um ganso fazendo alerta
Numa noite enluarada!
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POEMAS DO CONFRADE
JOÃO LOVER
Ascenso Ferreira
O ribombar dos tambores do quilombo
foi embalando a inspiração do Poeta.
Em cada verso, sentimos a descoberta
de uma sonoridade que é assombro.
Os fonemas ecoam em liberdade,
Ascenso vai do simples à erudição,
mostra o vigor da popular tradição
com a verve de suprainventividade.
“Adeus! Eu voltarei ao sol da primavera!”
é disparo de sua lira em quintessência
caminhando muito além da atmosfera.
Com vocábulos em tamborilar cadência,
Ascenso Ferreira garbosamente libera
uma poesia que transborda inteligência.
A pérola e a concha
Na concha, a pérola se aquecendo,
vibrante em volúpia a incandescer,
solta nas profundezas do prazer
como vulcão inquieto derretendo.
O brilho do olhar incendiando,
os olhos estão sorrindo em prece,
vai sentindo o que a carne oferece,
num sussurro sem dor delirando.
Pérola é o tesouro da aventura,
a beldade em perfeita estrutura,
um felino selvagem arrepiado.
A concha e a pérola no paraíso,
com o fluido do cio derramado,
não se lembram de razão e juízo.
A vitória e a lição
Cumprida a nossa parte,
com arte e sem alarde,
aqui dentro, nos bate
uma coisa bem positiva.
A sofrida expectativa
transforma-se em triunfo.
confirmados os trunfos,
comemora-se a vitória.
Vivemos uma história
tão carregada de lutas,
uma passagem curta
nesse tempo constante.
Nosso olhar mais brilhante
nas emoções dessa vida,
onde a dor e as feridas
são coisas determinantes…
Uma lição abre horizontes
e é o nosso melhor feito,
melhoria pros defeitos
dessa nossa humanidade.
É construir uma verdade,
é doar a grande herança,
trazer nova esperança,
deixar sempre uma saudade...
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A ESTRANHEZA POÉTICA DE
TONY ANTUNES
*Admmauro Gommes
Um dos fortes pilares que sustentam a inovação poética é a aparição repentina do espanto. Este elemento surpreende o leitor e até mesmo quem elabora o poema. Firma-se como bate-estaca indispensável na edificação do verso. Poesia que não causa estranheza é choupana fincada na areia e não resiste à ventania de uma crítica literária que seja a mais simplista possível.
Sofisticado é o verso de Tony Antunes. Verdadeira imersão no terreno das letras provocativas. Se considerarmos cada poema como um mundo novo, novíssima é a criação desse poeta que jamais repete uma fibra semântica. Por isso, supera a si mesmo em toda estrofe. É um criador de neologismos rebuscados e invencionices linguísticas. Espantoso. Esta é a palavra que define tal poeta.
Assim, uma neblina intencional encobre a clareza do quase (des)dito, obscuro pensar que atravessa a motivação criadora. Enquanto isso, as rimas internas (ocos-esgotos; abençoado-abismado...) suavizam as vigas de concreto que se formam no alinhamento de vocábulos incomuns:
“Arde no peito de ocos cérebros
os esgotos solitários das bobagens
um caos abençoado abismado espero
no espaço trapézico de titânio.”
Portanto, eis a advertência: Prepare-se para o confronto declarado no verso de Antunes: “o éter e a ética supuram insanos.”
Boa (e estranha) leitura!
*Admmauro Gommes
Escritor, Poeta, Antologista e Professor de Teoria da
Literatura na Faculdade de Formação de Professores da
Mata Sul – FAMASUL – Palmares/PE
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POEMAS INÉDITOS
CÓDIGO FÊNETRE
Tony Antunes
A língua é um caracol de fósforos,
Queimando as sílabas no viscoral
[das urtigas
Alguém sussurrou: - Fremir o nó é nada!
O espelho suga a pele em xeroxúmidos
Enquanto o céu lambeija os dentes
[de Dante.
Nenhum verbo cabe em saco de ossos,
O significante é o rei dos axiomas,
O sobejo das sobras caem por sombras,
Tudo não passa de geografia sonora,
Que desencalha o abacaxi das névoas
[e dos lamentos.
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INVERNÍLIA
Tony Antunes
Entre o véu do não-dito pulsa um
[ácido sol
Que enferruja a alma em lascas
[de silêncio.
A dor é um rizoma de espelhos quebrados:
— Cada reflexo, um fósforo aceso no vazio,
Ninguém ouve o grito da raiz que se faz cinza.
No tempo, um tempósporo, germina em cicatrizes:
— Feridas que respiram como pétalas invertidas.
A noite tece alvéolos de ausência:
— Redomas onde o ar é líquido e o choro,
[um cristal,
Até o eco se desmancha em névoa de
[esquecimento.
Sob a pele, um desflorescer de estrelas mortas:
— Corpo é mapa de fronteiras que o fogo traçou.
A sombra não é ausência de luz, mas um lódão:
— Líquido denso que escorre pelos ossos,
Sobrevive em dorsalgia do abismo
Sem fundo, sem nome.
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ÍNGUAS DO CORDIS
Tony Antunes
Gargantas ao ápice dos gritos,
Engasgos de silibilas roucas
Pustemam-se em glóbulos pútridos,
Predições ao leu da lua minguante.
Afago frígido, hábito tosco,
Frisos nos cabelos da chuva,
Pingos na íris do tempo,
Pongos nos lamaçais dos dias.
Vitae - Curriculum Mortus
No vate do mote é pouco,
Credo oco, insano sumo,
Vasculário de doida solidão.
No alarido das bocas ermas
A úvula burila-se: clitóris em êxtase
Tremem no entrelace dos quadris,
Babam na ânsia dos hormônios,
Beijam de peles e de poros.
O paroxismo, em segundos de suores,
Seca a língua, sua o corpo e satisfaz
[a carne
Nas ínguas do cordis
A arritmia cessa,
O corpo morre!
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POEMAS DA POETA CONFREIRA,
ELIETE CARVALHO
O QUE ESCREVO
Mas digo-lhe:
– O que escrevo é tudo que me resta.
Nunca tive riqueza, ouro ou prestígio.
Assim...
Vou esvaziando o adormecido coração.
Sem pressa.
Sem arrodeios.
Sem grandes pretensões.
Às vezes...
Sinto que sou incompreendida.
Eu sei. Mas não nasci para ser espelho.
Sou senhora dos meus desejos,
dona absoluta de mim.
Não fico preocupada,
Se sou
ou se não sou poeta.
Essa parte...
Eu deixo para quem me lê.
Eu apenas escrevo.
E sigo.
XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX
FEITA DE SONHOS
Sou feita de sonhos,
todos eles, sem exceções.
Tenho alma aventureira
e um coração cheio de desejos.
Sou verso e rima,
alma profunda, inquieta.
Pura invenção de mim mesma—
sem filtros, sem receita.
Sou calmaria e coragem,
verdade estampada, nua.
Rascunho de um sonho,
sem limites, sem fronteiras.
Sou verbo, sou cor,
diversa, intensa, obstinada.
Às vezes, estranha—
e quem não é?
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EU TE AMO
Que o verso nunca me falte,
Nem os delírios, a loucura...
Nem meu corpo pedindo o teu
Sob esse céu estrelado e puro.
Que o desejo nunca me falte,
Para perdidamente beija-te,
Em puro prazer, pele sobre pele...
Como dois atrevidos em êxtase.
Que o tesão nunca me falte,
E que eu necessite sempre...
Do teu cheiro, teu toque e de tuas mãos macias,
Deslizando em minhas (im)perfeitas curvas.
Que o amor nunca me falte,
E que o eco do "Eu te amo"...
Se repita, com fervor, mil vezes,
Em nossas noites de infinito amor.
Estou muito feliz com a criação desta página para os acadêmicos postarem seus poemas, isso nos oportuniza compartilharmos nossa poética, para que todos nos conheçam e que comentem sobre cada um dos trabalhos.
ResponderExcluirDe parabéns está a Academia Palmarense de Letras por esta abertura!
Muitíssimo obrigado por teu comentário, grande Poeta, Tony Antunes! Você é um diferenciado e muito bem-vindo a nossa Página dedicada todos os nossos acadêmicos!
ExcluirParabéns, para os versificados poetas das Bordas do Una. Xepa
ResponderExcluirQueridíssimo Poeta Marcos Xepa, muito obrigado pelo teu comentário, você e todos os outros Poetas e Poetisas são muito bem-vindos a esta Página totalmente dedicada a cada um dos membros da nossa APLE!
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